Empresa farmacêutica informa primeiro caso de resistência do H1N1 a remédio
"Existem duas linhas de medicamentos contra o vírus da gripe hoje. Uma delas, a amantadina, impede a entrada do vírus nas células humanas. A outra, de medicamentos como o Tamiflu [cujo princípio ativo é o oseltamivir], tenta barrar a saída do vírus de uma célula quando ele tenta infectar outras", explica Atila Iamarino, biólogo da USP que faz doutorado sobre evolução de vírus como o HIV.
A novidade é preocupante justamente porque, desde o começo, já se sabia que a nova cepa do H1N1 era resistente à amantadina, de forma que o oseltamivir, princípio ativo do Tamiflu, era considerado a única arma relativamente efetiva contra ele. Se a resistência detectada na Dinamarca se espalhar pela população viral, não adiantará mais usar o medicamento para mitigar a infecção.
Esperado
Iamarino lembra que um estudo publicado neste mês na revista científica "Nature Biotechnology" já apontava a possibilidade de resistência ao Tamiflu por parte do H1N1, com base numa análise do material genético do vírus. "Esses dados, porém, dizem que ainda sim o vírus pode ser resistente ao zanamivir, ou Relenza, o outro inibidor de neuraminidase [proteína do vírus que o Tamiflu ataca] usado atualmente", afirma o biólogo.
Ele conta também que é relativamente comum o surgimento de resistência ao Tamiflu durante o tratamento da infecção. "Um estudo japonês encontrou mais de 15% de resistência em crianças tratadas durante a infecção pela gripe normal", diz. Em especial no caso das crianças, o fato de elas terem tido menos contato com o vírus da gripe do que os adultos, a maior duração da infecção e a imunidade mais baixa poderia aumentar as chances de um vírus resistente ser selecionado após os suscetíveis serem eliminados pelo tratamento.