Era uma manhã como poucas na quase sempre gelada Estônia. Sol, vinte e quatro graus e a seleção do país treinava para O jogo, com “O” maiúsculo mesmo, contra oBrasil na quarta-feira. Mas a fisionomia feliz do técnico Tarmo Ruutli, que nesta terça-feira faz 55 anos, rapidamente virou angústia quando o assunto deixou de ser o futuro próximo.
O passado incomoda. Ruutli foi um meia talentoso, o melhor do país, mas jamais defendeu a Estônia, porque a seleção local só voltou a existir há 17 anos, quando Ruutli era já um jogador aposentado. Os 52 anos de ocupação soviética tiraram dos estonianos até o direito de torcer pelo país (com o qual os gremistas têm alguma razão pra simpatizar: a bandeira é azul, preta e branca).
- O futebol voltou a ser a maior paixão esportiva dos estonianos, mas nos tempos de União Soviética nosso futebol praticamente deixou de existir – disse Ruudle, que conseguiu um heroico empate sem gols com Portugal em um amistoso em junho. A Estônia ocupa a penúltima posição em seu grupo de eliminatórias para a Copa.
Se é pequena a história do futebol estoniano, pequeno é também o estádio, com capacidade típica de ginásio: 10.500 torcedores e olhe lá. Curiosamente, o jogo festeja os cem anos da primeira partida de futebol disputada na Estônia. Uma história centenária e de poucas páginas.
Quase todos os jogadores atuam em países próximos, como Finlândia, Noruega e Suécia. O zagueiro Ragnar Klavan é um dos orgulhos da torcida. Ele foi o primeiro estoniano a disputar um jogo da Liga dos Campeões. O defensor do AZ Alkmaar, da Holanda, espera não sofrer com os atacantes brasileiros.
- Nosso objetivo é não deixar que a diferença de gols seja grande. O Brasil tem a melhor seleção do mundo e não vai ser fácil pra nós - disse Klavan.
Enquanto um grande número de turistas passeava pela belíssima e milenar Tallin (Patrimônio Cultural da Humanidade), a seleção do país se prepara para um grande momento de sua história. A invasão de outro império, dos pentacampeões de futebol.